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segunda-feira, novembro 19, 2007

Dama da noite

Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro O Verdadeiro Amor. Cuidado comigo: um dia encontro.
[ABREU, Caio Fernando, Os dragões não conhecem o paraíso, p. 97-98]

quinta-feira, novembro 15, 2007

Dez chamamentos ao amigo (fragmento, In: Júbilo, memória, noviciado da paixão)

VIII

De luas, desatino e aguaceiro
Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura

Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura de teu corpo exato.

Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar
Sem amargura. E que me dêem

A enorme incoerência
De desamar, amando. E te lembrando

- Fazedor de desgosto -
Que eu te esqueça.

[Retirado de HILST, Hilda, Poesia (1959-1979), Editora Quiron, 1980 -> um achado que descansava num sebo do Rio de Janeiro!]