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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Do abafado de dentro

se te empurro abafada e cortante
como o vento dessa noite fria
é que restam ainda vestígios de memória
em dissoluto

e se as sobras não mais nos contentam
é que temos jogá-las fora
e carrego - enquanto posso -
o peso do sorriso aberto

nas flores que ainda existem
pisei com tortura
e caos - mas essa ausência
só Drummond soube explicar
e é audácia tentar dizer

complementar sentimento sabido
e cantado
com palavras novas
e árduas
densas para um momento brusco
e pesado nas costas

se te empurro atordoada e fria
é que ainda te amo e sinto
a impossibilidade da palavra
escrita, falada, de gestos
em forma de gás ou líquido

e enterro-a no chão bem sólida
como quem nada mais deseja
mas querendo mesmo tudo
desejando abarcar teus olhos
que perdi
em noites alheias

e que sozinha me fico
na escuridão do corpo
e da alma - afogados inertes
fogo que arde e machuca e resiste

ausência: fachada provisoriamente
fechada
para balanço
ou redemoinhos....