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terça-feira, junho 20, 2006

Desavisos

21:14

Rôo unhas incessante
ao som de Portishead


21:23

Abro um livro
Não passo da primeira página


21:37

O telefone toca
Ando de um lado
a outro da casa


22:00

Ligo a tevê
com uma taça de sorvete
de chocolate


22:20

Quase durmo
Os chinelos largados dos pés
Tento um cigarro


22:25

Você caminha por aí
quase esquina
Escuto uma batida de carros


22:40

O vento insiste no vidro da janela
que não se abate
Em mim a ânsia cinza
do aguardo

22:42

Calço meias nos pés
O chão frio estala
quanto mais a noite escurece


22:50

Deito na cama
desarrumada
O travesseiro não relaxa
meus cabelos ainda molhados


23:03

Ouço sons de passos
As chaves rodaram
na fechadura


23:04

Sinto ao meu lado
a temperatura
Você se deita
por trás


23:07

Ainda finjo o sono
forjo
o desdém
que não sinto
por debaixo da camisola branca


23:08

Suas mãos se arrastam
nas minhas pernas
Imagino
estrelas


23:10

Suas mãos baixam minha calça
a perna treme
Imagino
sirenes


23:11

Por debaixo do cobertor
sua cabeça
desce
entre as minhas pernas
Imagino lua cheia


23:15

Desarmada
já não sei quem sou
Lembro do sorvete
da tevê ligada
o telefone
mas ouço sirenes
sinos
estrelas
O lençol molhado

23:16

O chão estala
(ou sou eu quem derrete
por dentro?)


23:20

Viro o rosto
os olhos ainda fechados
nada podem dizer
de concreto


23:27

Você permanece
entre os estalos de mim
do chão
da casa toda
que quase comunica
um gesto


7:30

A cama está vazia
O sol entra pelas frestas
Lembro do sorvete
de chocolate
Fecho os olhos e durmo


9:40

O despertador toca
em vibrações sonoras
O sol permanece estático
Vejo a cama desarrumada
(Não lembro de mais nada)

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