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quarta-feira, maio 24, 2006

Do olhar

Estranho é não ter um dos olhos. É ver o mundo tampado pela metade, é ter o senso dos sentidos que se inserem no sentido único do olhar. Ver as coisas.

Estranho é acordar e temer abrir os olhos. É sentir algo líquido escorrendo pelas bordas, molhando as pálpebras que até coçam, inacessíveis...

Vislumbrar o edemacular que me pertence e que a ciência extirpa, injetando em mim, na sensibilidade dessa parte chamada olho, um treco líquido e preto e que turva tudo.

Ontem, escrevia sem enxergar as letras. Fechar os olhos por segundos era clarear imagens. Hoje, retirado o curativo, tenho um olho roxo e umas secreções grudentas rodeando, fazendo grudar as pálpebras.

Alguém aí já se imaginou cegueta? Muitas vezes eu temi isso, talvez desnecessariamente, mas é algo que só se entende sentindo. E hoje já enxergo as letras, mas as coisas aparecem por trás de um véu líquido preto que insiste em se colocar entre mim e o mundo, e eu vejo os vários olhares possíveis, tendo um olho claro e o outro obscurecido.

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